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segunda-feira, 5 de julho de 2010

PORTÃO DO INFERNO - Relatório desaparece e nenhuma ação foi feita


A situação vem sendo denunciada há mais de 3 anos. Mas, até agora, nada foi feito para conter os riscos de desmoronamentos nos paredões do Portão do Inferno, um dos pontos turísticos de Chapada dos Guimarães. A queda de blocos de rocha é um processo erosivo natural e lento, mas tem acelerado significativamente nos últimos anos e os visitantes estão sob ameaça. Um relatório feito em setembro de 2008 e que apontava as medidas necessárias desapareceu.

O Portão do Inferno tem 2 mirantes para observação, um ao lado da pista e outro há cerca de 200 metros adentro seguindo a borda do paredão. Porém, os 2 estão suspensos, sem sustentação alguma. Os blocos de rocha da parte inferior caíram, ficando apenas uma camada superior, bem fina, que pode desabar a qualquer momento.

O perigo é alertado por ambientalistas, geólogos e agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade desde a tragédia no Véu de Noiva, em abril de 2008, que matou uma pessoa e feriu outras 5. Um estudo chegou a ser feito no local para apontar medidas de proteção, mas nada foi feito.

Recentemente, várias placas informando o risco de desmoronamento e alertando os visitantes para não se aproximarem das bordas foram colocadas no local, mas elas não evitam que as pessoas cheguem até a cerca, onde o perigo é eminente. "É uma situação que não tem data prevista para acontecer, mas está aí e as pessoas precisam ter consciência. Pensamos em construir umas barreiras, mas as pessoas tem que respeitar, nós não podemos segurar ninguém".

O alerta é do gerente da Unidade de Conservação, Cecílio Pinheiro. Segundo ele, existe a intenção de isolar o local, a exemplo do que foi feito no Véu de Noiva, e construir passarelas para visitação, mas antes precisam resolver outro problema. Há mais de 20 anos, uma pamonharia funciona naquele ponto, fomentando a parada dos visitantes, e precisa ser retirada para que os projetos sejam executados. "Eles também estão correndo risco aqui e incentivam as pessoas a pararem. Nós não temos estrutura para colocar alguém aqui só para impedir as pessoas de irem nas áreas de risco".

O gerente explica que o estabelecimento já foi embargado e multado, mas se mantém no local. "Nós já temos um processo administrativo e a Polícia Federal foi informada, já que temos um problema fundiário aqui. Mas devemos ingressar com um processo judicial para remoção deste estabelecimento o mais rápido possível".

A proprietária do ponto não foi encontrada. Apenas o funcionário Alonso Rocha estava no local. Ele revelou que ouviu comentários que a pamonharia vai mudar para outro local, devido as intensas cobranças. "Se fala muito que isso aqui vai cair, mas não sei não. Todo este tempo e não caiu".

O pensamento de Alonso é o de muitas outras pessoas que, mesmo sendo alertadas, transitam livremente nos pontos de risco. O feirante Edson Camargo é de Goiânia e disse que nem se atentou para as placas quando chegou ao local. Ficou assustado ao saber que ele e toda a família corriam perigo. "Eu não sabia não. Meu Deus, se isso vai cair precisam fazer alguma coisa. A gente vem de fora, chega e vai andando, mas nem se atenta para as placas".

A estudante Juliane Caroline, 19, também revelou desconhecer a situação. "A gente até vê as placas, mas não pensa que é tão grave assim".

Perigo - A gravidade é explicada pelo geólogo da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Prudêncio Castro. Ele declarou que os paredões daquela região são formados por "rochas moles", formadas por areia mal acimentada e que facilmente sofrem rupturas e desmoronam. "São rochas de areia que têm apenas uma película de óxido de ferro. Se esta película se rompe, os blocos também quebram facilmente e caem".

Esse processo natural, segundo ele, é acelerado devido a presença do homem e vibração dos veículos que trafegam na rodovia Emanuel Pinheiro, que passa bem próximo à borda dos paredões. "Nós percebemos aqui vários blocos que já caíram e alguns desmoronamentos recentes. Também vemos o rebaixamento da rodovia. Será que isso já existia ou é consequência dessa queda de blocos?".

Ele também lembrou que as trilhas foram criadas nas bordas dos paredões sem critérios técnicos e as pessoas estão expostas a riscos muito grandes.

Entrave - A demora para que estes problemas sejam resolvidos, mesmo com o risco eminente de desmoronamentos, segundo o gerente Cecílio Pinheiro, é provocada pelo conflito na legislação. "A rodovia é de responsabilidade do Estado. Os 30 metros nos leitos da rodovia também, mas as bordas de Planalto são áreas de preservação permanente. O parque de Chapada é uma Unidade de Conservação da União e tudo que está dentro dele é de nossa responsabilidade".

Conforme ele, há projetos para manter a visitação no local, sem colocar em risco a vida das pessoas. "Nós pensamos em fazer passarelas suspensas e cercadas, mas para isso precisamos revolver muitas outras questões".

O projeto se assemelha ao modelo das Cataratas do Iguaçu. "Também queremos implantar isso no Véu de Noiva".

Tráfego pesado - Um dos processos que vem acelerando os desabamentos no local, segundo especialistas, é o tráfego de veículos pesados. Em poucos minutos que nossa equipe ficou no local, flagrou vários caminhões.

Esta questão já foi discutida em anos anteriores, com intervenção do Ministério Público, que entrou com uma ação judicial para interromper a passagem de veículos pesados. Após recursos, o poder Judiciário autorizou o tráfego de caminhões que tivessem como destino o município de Chapada.

O controle deve ser feito no posto da Polícia Militar, já que a rodovia também interliga Cuiabá a outras cidades e passou a ser utilizada por muitos veículos devido o bom estado de conservação da pista, além das belezas naturais ao seu entorno.

Extraviado - Os riscos de desabamento dos paredões do Portão do Inferno foram confirmados em um relatório técnico realizado em 2008, a pedido da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra). Na época, o engenheiro Carlos Eduardo Sales Filho, do Departamento Estadual de Rodagem de Minas Gerais, foi contratado para fazer o serviço, e revelou a necessidade de colocação de telas de proteção nos paredões superiores do viaduto para evitar deslizamentos, além de outras medidas.

Porém, as propostas não saíram do papel. O documento que daria sustentação para que as medidas fossem implantadas, não foi localizado pela secretaria. Nossa equipe solicitou acesso ao material para ter mais informações sobre a constatação feita na época pelo engenheiro, mas foi informada pela assessoria que o relatório foi extraviado, não sendo encontrado.

O engenheiro Carlos Eduardo Sales também foi localizado pela nossa equipe, mas preferiu não falar sobre o assunto sem autorização da secretaria.

A Sinfra também informou que está trabalhando nos projetos para duplicação da rodovia Emanuel Pinheiro até Chapada dos Guimarães. As obras já começaram no trecho da Capital ao trevo do Manso, totalizando 17 quilômetros.

Para o gerente da Unidade de Conservação Cecílio Pinheiro, as propostas deverão ser analisadas minuciosamente, já que os impactos ambientais podem ser incalculáveis.

Outra polêmica, segundo ele, é que o será feito no trecho que passa no Portão do Inferno. No atual traçado, a rodovia passa por um viaduto, que foi construído com base nos paredões, mas que também corre risco com os desmoronamentos. "Um relatório feito no local apontou que o viaduto está em perfeitas condições. Isso nós sabemos, mas a base está nos paredões, então o risco também existe. Temos que esperar quais serão as sugestões que eles vão dar para depois nos pronunciarmos".

Para o geólogo Prudêncio Castro, a melhor alternativa é a construção de um túnel, mudando o trajeto da rodovia. "Para isso é preciso contratar profissionais qualificados para apurar os impactos e viabilidade. Mas acredito que seja a melhor saída, sem oferecer risco as pessoas e aos paredões".

Fonte - A Gazeta

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