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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Sem fiscalização, pesca é realizada na "boca" do esgoto

O alto grau de poluição em determinados trechos urbanos do rio Cuiabá não só inviabiliza a sua utilização para o consumo ou banho como o torna impróprio para a pesca. Porém, uma cena corriqueira na cidade são pessoas pescando bem na desembocadura de córregos que lançam esgoto in natura no rio.

Um dos trechos mais críticos fica entre a região do Pari (onde de o grau de contaminação ainda é baixo) e a comunidade São Gonçalo Beira-Rio. Neste percurso, são pelo menos três córregos que lançam diretamente dejetos no Cuiabá, sendo eles Oito de Abril, Prainha e Barbado - locais preferidos por vários pescadores amadores e profissionais para a prática da atividade.

“Aqui a gente pega de tudo. Tem piraputanga, piau, dourado e pintado”, contou um pescador profissional que, reconhecendo que o local não é a apropriado, pediu para não ser identificado. Na última terça-feira, ele e pelos menos outros 15 homens pescavam na saída do Oito de Abril.

O pescador, que inclusive já atuou na diretoria da Colônia Z1, lembrou que a legislação proíbe a pesca a menos de 500 metros da jusante de um córrego. Mas, reclamou da falta de peixe no rio. “A gente pesca onde o peixe está. Antes tinha até nas sub-bacias. Hoje, acabou e o rio Cuiabá, é só esgoto”, comentou. “Aqui (saída dos córregos) é onde ficam as iscas (lambaris), que são alimentos dos peixes maiores”, acrescentou.

Embora afirmem que nas proximidades do córrego há até pintado, um dos principais peixes fisgados nestes locais é o curimbatá, também chamado por vários pescadores de “papa-barro”. Além do lodo ou barro, este peixe costuma se alimentar dos sedimentos que caem na água sem qualquer tratamento, como fezes ou óleo industrial, grande parte despejados pelos inúmeros lava-jatos que atuam de forma irregular nas proximidades do rio.

Um outro pescador, que também não quis se identificar, comenta que, muitas vezes o lodo encontrado às margens dos córregos é usado na pescaria. Porém, eles garantem que o sabor do peixe não difere em nada dos que são fisgados em locais apropriados. “É muito bom. Hoje (terça-feira) mesmo comi um curimbatá frito que estava muito gostoso”, comentou um deles.

Além do consumo próprio, o pescado fisgado na beira dos córregos também é vendido para os estabelecimentos comerciais da cidade. De acordo com o gerente da Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Vagner César Souza Barros, por meio de estudos sobre a balneabilidade feitos pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema), o órgão acompanha a questão da qualidade da água em diversos pontos do rio Cuiabá. Porém, não dá para saber os reais efeitos sobre os animais aquáticos.

“Os poluentes agem de forma diferente nos peixes. O que é prejudicial para o homem pode não ser para o peixe, que tem na água o seu habitat natural e que diluiu os poluentes e os patógenos (microorganismos)”, afirmou.

Conforme ele, o órgão vem buscando junto a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para que inclua em seus cursos de mestrado e doutorado temas que visam o estudo dos efeitos ou em que concentração o esgoto se torna prejudicial para os peixes.

Vanger Barros lembrou ainda que, em 2009, foi criado o “Pacto pelo rio Cuiabá”, que reúne diversos órgãos públicos, ONGs e instituições de ensinos nas esferas municipais, estaduais e federais com o objetivo de recuperar a bacia do rio até 2020. “Algumas das ações são a fiscalização em córregos para identificar e coibir o lançamento de efluentes para diminuir os riscos às pessoas”, observou.

24Horas News

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